Walter Miranda
Artista Plástico

SER E NÃO TER, TER E NÃO SER, EIS A ETIÓPIA!

2020
Walter Miranda

Em 1985, a Etiópia passou por uma crise social gravíssima com milhares de habitantes morrendo de fome. Tocado por essa tragédia, pintei três quadros expressando a minha indignação e, inspirado em Shakespeare, usei como título para a série a frase Ser e não ter, ter e não ser, eis a Etiópia!

 

Parece-me que hoje, a Etiópia superou a crise de 85 e está em desenvolvimento social e humano. Apesar de ainda existirem problemas sociais e políticos, o país reconquistou a dignidade que todo povo merece ter.

 

Entretanto, em outras regiões do planeta, ainda existem povos e populações que vivem o drama de não ter o essencial para a sobrevivência enquanto outros desperdiçam, sem a menor preocupação com seu semelhante, apenas porque estes se encontram a milhares de quilômetros de distância.

 

QUADRO 1 – A essência humana (representada pela criança) deveria valer mais que as convenções territoriais que dividem a nossa espécie. É exatamente isto o que tentei transmitir nesse quadro, onde a estrela representa o transcendental e a Terra o material, tendo como base filosófica o conceitualismo hipócrita dos quintais embandeirados. Nesse tipo de sistema mundial, o ser humano encontra-se sobre uma balança apoiada em um mundo envolto pela tecnologia usada desmesuradamente.

 

QUADRO 2 – Os sistemas políticos, econômicos e religiosos mundiais, representados pelas bandeiras pintadas, têm a maior parcela de responsabilidade pela desigualdade da condição humana, já que eles têm suficiente poder de influência para alterar essa situação. Por isso, a vida humana encontra-se dentro de uma grade cuja base é sustentada por algumas bandeiras apoiadas sobre placas eletrônicas representativas das ferramentas tecnológicas em cujo seio encontram-se exemplos de injustiças e violências contra refugiados vítimas da opressão e repugnância dos mais abastados.

 

QUADRO 3 – A criança representa, nesse caso, todos os povos explorados que sustentam, com seu sangue e sacrifício, os países desenvolvidos e ricos. A tentativa sôfrega e vã de tentar sugar um pouco de vida é desviada para o sustento de uma opulência que se justifica por meio de conceitos e convenções econômicas.

 

Walter Miranda
Ateliê Oficina FWM de Artes
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