Walter Miranda
Artista Plástico

Livro de Gaia

2001
Junho/2001Walter Miranda

LIVRO DE GAIA I Obra composta de três placas de computador, cujos componentes eletrônicos foram rearranjados a fim de facilitar a inclusão de elementos figurativos na composição do trabalho. O conjunto das placas formam um livro com três páginas. Cada página representando uma etapa do desenvolvimento humano na Terra (Gaia).


A primeira página (capa do livro) aborda o desenvolvimento do Homem desde a pré-história até a Antigüidade. Nesse período, o Homem aprendeu a observar o céu e relacionar determinados fenômenos celestes com o crescimento das plantas e, consequentemente, aprendeu a cultivá-las, passo fundamental para o seu desenvolvimento cultural e tecnológico.  A inclusão de imagens representativas desse desenvolvimento começa pelo canto inferior direito da placa onde se encontra a silhueta da mão de um homem pré histórico, autor dos desenhos e pinturas rupestres encontrados em uma caverna. Junto a essa mão estão as imagens de duas placas de barro com inscrições muito antigas, representando a invenção da escrita. No centro da parte superior da placa encontra-se um compartimento dividido em duas partes. Na parte superior do compartimento estão algumas fases de um eclipse solar e, logo abaixo, a Terra e uma espiga de trigo, o alimento fornecido pela mãe Terra (Gaia). No compartimento inferior estão elementos que representam a natureza, conchas, flores, sementes, etc. No compartimento superior direito, encontra-se um esqueleto representando um fóssil pré-histórico, o mesmo ocorrendo com um osso ao lado desse compartimento. Abaixo uma ampulheta representa o transcorrer do tempo. Uma outra imagem apresenta as pegadas humanas mais antigas encontradas até hoje. Uma placa com inscrições cuneiformes está acima do esqueleto de "Lucy", supostamente o ancestral mais antigo do ser humano. O Cruzeiro do Sul está representado através de estrelas metálicas junto a uma pedra lascada.


A segunda página aborda o período entre a Antigüidade e a Revolução Industrial. Vários elementos, tais como, caracóis e espirais representam o desenvolvimento matemático do homem obtido através da observação da natureza. O eclipse solar envolto em nuvens e um corvo em primeiro plano, representa a superstição vigente no período e o olho com a Terra no centro representa o misticismo religioso. O desmembramento da figura humana desenhada por Leonardo da Vinci representa o humanismo no Renascimento; e o mapa mundi representa as grandes navegações e o sentido de domínio da natureza que o Homem acredita ter ao criar divisões territoriais. As diversas peças mecânicas representam o desenvolvimento proporcionado pela Revolução Industrial e o ilusório domínio Humano sobre a natureza.


A terceira página aborda o período entre a Revolução Industrial e o momento atual. Várias imagens ou elementos colados na placa representam situações ou circunstâncias próprias da nossa era. As imagens da Terra sem água e com o buraco na camada de ozônio representam a fragilidade do ser humano frente à escassez dos recursos naturais devido a uma exploração inconsistente com a qualidade de vida que todos almejamos. Nesse sentido, a Terra dentro do relógio reforça o conceito de pouco tempo para evitar uma situação apocalíptica. O cogumelo atômico e o relógio destruído pela bomba em Hiroshima representam os perigos que o mal uso da tecnologia pode causar. A imagem de um soldado e uma bala de revolver representam a violência atual. Os urubus sobre um monte de lixo, uma floresta queimada e a imagem de vírus atacando uma célula representam a perda de qualidade de vida atualmente. As imagens de espermatozóides tentando penetrar um óvulo e o reflexo de um eclipse solar sobre uma mão demonstram o entendimento que o conhecimento humano trouxe sobre os fenômenos da natureza. Na parte inferior direita da placa, a imagem de uma mão sobre uma placa de computador (minha mão) faz uma ligação com a mão do homem pré-histórico, na primeira página, como se fosse uma assinatura da humanidade, mas também como se fizesse um sinal de proibido para as inconseqüências praticadas pela humanidade atualmente.


LIVRO DE GAIA ii A primeira página (capa do livro) aborda a pré-história. Nesse período, o Homem, ainda caçador e coletor, observava o céu com admiração. A inclusão de imagens e elementos representativos dessa época começa pelo canto inferior esquerdo da placa onde se encontra a silhueta da mão de um homem pré-histórico, estampada na parede de uma caverna. As imagens pintadas da Vila Láctea, sistema solar e do planeta terra, estão dentro de “mini vitrines” de acrílico e representam o estado natural do universo material do ser humano, íntegro até então. Uma ponta de flecha e uma semente de feijão representam as fontes de alimentação da época. A segunda página aborda o período entre a Revolução Industrial e a década de 1980. As moedas representam o sistema financeiro; as balas de revolver representam a violência e agressividade humana. A imagem de um relógio de Hiroshima (paralisado no exato momento da explosão atômica) e de um cogumelo atômico representam a capacidade que o homem obteve no século 20 para se autodestruir. A terceira página aborda o momento atual e as vicissitudes da vida contemporânea. Algumas imagens pintadas mostram a capacidade de observação analítica obtida pela ciência de hoje, que é capaz de eliminar virtualmente a água do planeta Terra para estudar a sua forma nua; observar por meio de satélites a evolução do buraco de ozônio e a energia de fundo do universo. Duas imagens representam o avanço da ciência e mostram a terra fotografada por um astronauta na lua e a imagem da lua vista no limite da atmosfera terrestre. A imagem do planeta visto do espaço com a poluição tomando conta representa o grau de inconsistência que essa mesma ciência nos provocou. Nesse caso, a luva de um astronauta serve de analogia com a mão do homem pré-histórico, na primeira página, e representa uma espécie de assinatura universal que determina o autor das atitudes representadas em todo o livro. A luva tem também um segundo significado que é o de demonstrar o sinal de proibido para as inconsequências praticadas pela humanidade atualmente.  

Walter Miranda
Ateliê Oficina FWM de Artes
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