Walter Miranda
Artista Plástico

Maribruma

2020

Título: Da série “Dicotomias Humanas” - Maribruma

Técnica: Óleo + areia + objetos* sobre tela sobre madeira

Dimensões: 136 cm X 56,8 cm                                  

Ano: 2020

*Objetos usados: Placas de computador serradas e esmerilhadas, detritos de componentes eletrônicas, cascas de lápis apontados, cúpulas de vidro etc.

A série “Dicotomias Humanas” faz parte de uma proposta pictórica em que abordo o potencial humano para fazer coisas belas ou destrutivas dependendo do ímpeto filosófico, social, financeiro, religioso etc. Usei três exemplos recentes que me impressionaram para pintar dois quadros que representam a capacidade de superação e de descaso humano. O primeiro trabalho apresenta o notório resgate dos mineiros chilenos.  O segundo trabalho aborda as consequências de dois desastres ecológicos provocados no Brasil, no espaço de quatro anos, pelo desleixo de uma única empresa.

Em 5 de novembro de 2015, a cidade de Mariana foi surpreendida com o rompimento de uma barragem denominada Fundão e administrada pela Samarco Mineração e controlada pelas mineradoras Vale SA e BHP Billiton. A lama formada pelos rejeitos de mineração inundou os subdistritos de Bento Rodrigues e Paracatu de Baixo, que ficaram quase que completamente destruídos, e matou 19 moradores. Na sequência, a enxurrada de lama atingiu diversas vilas e distritos no vale do rio Gualaxo e poluiu as águas do rio Doce, que passam por mais de 200 municípios de Minas Gerais e Espirito Santo até desaguar no mar. Muitos municípios tiveram o abastecimento de água prejudicado por dependerem do rio Doce. Um dos resultados dessa catástrofe no rio foi a extinção de várias espécies de peixes e a degradação ambiental que durará várias décadas, sendo que as terras se tornaram improdutivas e vários animais desapareceram da região devido às condições do rio Doce. Em 22 de novembro de 2015, a lama atingiu o mar tornando as praias da região impróprias para banho e afetando uma reserva biológica local importante e milhares de espécies da fauna e flora marinhas.

Em 25 de janeiro de 2019, outra barragem controlada pela pela Vale SA e denominada Mina do Córrego do Feijão, na cidade de Brumadinho, também sofreu rompimento matando 270 pessoas, entre trabalhadores, moradores e turistas. A queda da barragem despejou uma lama espessa que atingiu vilas locais, fechou estradas, derrubou pilares de um pontilhão e atingiu e contaminou o rio Paraopeba, que abastece mais de cinquenta cidades. A lama também destruiu parte da Mata Atlântica e matou vários animais domésticos e silvestres. Esse é considerado o maior desastre ambiental do país e o maior acidente de trabalho.

Como consequência dessas mazelas, as cidades que foram afetadas pelos dois rompimentos tiveram suas atividades econômicas prejudicadas, fato que causou desemprego e fechamento de atividades além de reduzir a qualidade de vida das populações locais.

Assim, esse segundo trabalho representa a minha revolta com o descaso das empresas mineradoras para com a vida humana, a fauna e a flora. Ele aborda algumas situações representativas desses dois desastres ambientais. O centro do quadro representa o percurso dos rejeitos indo até o mar, na parte inferior. Na parte superior, dois bailarinos representam a arrogância e o desespero humano frente às suas ações contra a natureza. A faixa esquerda representa situações referentes à destruição provocada na região de Brumadinho e a faixa da direita representa situações causadas pela barragem na regição de Mariana.

O título desse quadro é formado pela junção dos nomes das cidades de Mariana e Brumadinho (Mari+Bruma).

Walter Miranda
Ateliê Oficina FWM de Artes
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